Aos escaladores, montanhistas e qualquer viajante desse mundo, trazemos hoje um relato sobre uma das Mecas da escalada no Brasil, e também um destino de natureza e montanhas fascinante: a Serra do Cipó.
A Serra do Cipó se localiza na região central de Minas Gerais, há cerca de 100 km da capital Belo Horizonte. Caracteriza-se por um relevo acidentado e de rochas expostas, com grandes montanhas de mármore e quartzito, que abrigam espécies únicas de fauna e flora, em meio a uma vegetação de cerrado e de campos rupestres em maior altitude.
Os atrativos são uma série de trekkings acessados no Parque Nacional da Serra do Cipó, que dão acesso às montanhas e às enormes cachoeiras que trazem fama ao local. Para os praticantes da escalada esportiva, há centenas de vias com proteções fixas que se localizam próximo a Cachoeira do Véu da Noiva, na parte sudoeste da Serra.
O relato aqui é da montanhista Veleda Muller, praticante de caminhada em montanha desde 2014, mas iniciante na escalada, trazendo assim uma visão mais geral da experiência na Serra do Cipó e como a viagem despertou ainda mais o gosto pelo esporte e abriu os olhos para o que é de fato a vivência de um escalador esportivo.
Foram 4 dias na localidade Serra do Cipó, onde ficam os escaladores, pois as pousadas e campings estão há poucos minutos das vias de escalada esportiva, e 4 dias no distrito de Ipoema, onde começa a Serra do Cipó em sua extremidade sul, e há várias cachoeiras e montanhas para explorar.
A escalada acontece nos afloramentos de mármore da Serra, que já fizeram os olhos de geóloga brilhar como nunca. As formas das montanhas e das paredes rochosas são de uma beleza única, formando grandes dobras na rocha cinza e lisa, que fornece ótimas agarras, resistentes e não agressivas à pele.
A maioria das vias está entre os vários setores do Grupo 3, com destaque para os clássicos Sala da Justiça e Vale Zen, mas há vários outros e alguns abertos recentemente. Há vias de todos os níveis, normalmente bem protegidas, e de diferentes estilos: curtas e longas, positivas e negativas, exigentes em técnica, força e/ou resistência.
A hospedagem foi no Abrigo G3, um dos que recebe o público escalador, e aí já começa toda a experiência. Todos os dias ao chegar e ao acordar, encontramos pessoas que estão ali por diversos objetivos, mas todos unidos pelo esporte. Raramente os assuntos variavam sobre o quão bonita ou dura era uma via ou outra, e foi interessante notar o que motivava cada um: uns tinham objetivos definidos, repetindo vias até conseguirem a desejada cadena, outros queriam entrar no máximo de vias que pudessem, e por aí vai.
Em geral o pessoal é bastante focado em seus projetos, cuidando do descanso e da alimentação, mas claro que com bastante descontração.
“Durante o tempo que estive lá, tive a oportunidade de entrar em várias vias de 5º a 7º grau, mas respeitando meus limites, às vezes guiando e às vezes de top rope. Em particular, sou fã das vias longas e com visual amplo e, por isso, dentre as que entrei, se destacaram a Injustiça Social (6a), Sextão Sessentão (6c), e Amor Incondicional (7a).”
Injustiça Social é super possível aos iniciantes, o crux está no início da via, antes das duas primeiras costuras, e daí para frente é só uma questão de administrar a energia e o psicológico, já que as agarras são ótimas. É bem longa, com duas paradas, e alguns trechos de transversal que requerem um cuidado maior. Termina no topo de uma rocha com vista incrível para as montanhas maiores da serra e é possível descer caminhando.
Sextão Sessentão é uma das vias clássicas do setor principal, de 60 m e duas paradas. É em geral vertical, com alguns lances difíceis, e que exige resistência e confiança, oferecendo doses de adrenalina. Guiei esta somente até a primeira parada, e a segunda metade da via continuei de top rope. Posso dizer que foi minha maior paixão no Cipó e que se tornou o projeto de cadena para a próxima vez. A via é linda, termina também em um topo com vista para todo o vale, e para outras vias clássicas como a Sinos de Aldebaran (8c), mas totalmente possível aos iniciantes que já tenham uma maior intimidade com a rocha.
Amor Incondicional não está dentro do setor principal, mas sim no Vale do Papagaio, tem aproximadamente 30 m, e continua até 60 m, mas a segunda parte é graduada em 9b. O nome não é toa, pois a via só desperta amor, tem ótimas agarras e combina muita técnica com resistência. Encarei de top rope, com vários descansos, pois ainda estou longe de mandar qualquer 7º grau, mesmo assim, foi possível chegar até o fim curtindo todo o percurso e admirando a beleza da rocha laranjada com o bater do sol.
Aos escaladores mais experientes, o parque de diversões é inacabável, vi meus companheiros mandando vias incríveis como O Dia Que a Terra Parou, Bárbaros, Dilúvio da Sans Peña, Lamúrias de um Viciado, etc. Mas posso dizer que mesmo para os iniciantes tem muitas vias possíveis, que nem tive tempo de entrar.
Resumindo a experiência, no Cipó pude dizer que escalei de verdade. Cheguei tendo guiado apenas uma vez no Morro do Anhangava (no Paraná), e saí conhecendo a emoção de uma guiada, de uma cadena, de passar um crux difícil, de aguentar na resistência e no psicológico e, claro, de ver um por do sol mágico no fim de uma via com vista aos vales montanhosos mineiros, ardendo amarelos, aquecendo e iluminando as almas aventureiras que ali se deleitam.
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